domingo, 27 de novembro de 2016

Melhor amigo

Comecei a escrever inicialmente, não para lerem ou reconhecerem-se, nem para que me entendessem, mas sim para deixar cair tudo o que está a mais em mim, o que não consigo mais conter. Ela me ouve e eu falo.
Para entre os braços das palavras e rabiscos eu volto, conforto de onde não deveria ter saído. Deixei o meu país das maravilhas e encontrei-me na realidade na esperança de lá conseguir-me inserir. Ajustei-me por entre os ramos das várias árvores, pensei conseguir adaptar-me e fazer parte de cada uma delas. Confiei, dei algumas das minhas folhas, se não todas elas e deixaram-nas cair. Pensava que me queriam bem, que se preocupavam comigo, quando apenas queriam segurar nos meus ramos enquanto necessitavam, sendo eu apenas uma companhia pelas experiências. Têm vergonha de mim e não me entendem.
Despida, procurei abrigo na minha verdadeira e sempre fiel melhor amiga que, apesar de tudo, continuava disponível para o meu corpo agasalhar – a paciente folha de papel. Procurei florescer na floresta. Ela é a única em que posso sempre realmente confiar. Ela nunca me abandonara.
Há príncipes no mundo, é verdade, mas também há perigo e pessoas. Onde os príncipes aprendem a serem encantados e não a serem sinceros. E se elas descobrem quem eu sou, quando eu sei que não sou o que elas pensam que querem? Ou então e se for? Mas como podes saber quem és até saberes o que queres? O que escolher? Um local seguro onde sou eu mesma, mas onde tudo está mal? Ou onde tudo está bem, mas sabes que nunca vais pertencer?
No mundo há votos, há laços, necessidades, existem padrões, há o que deves e não fazer! Porque não amar em vez disso? No meu cantinho não há certo ou errado, somente sentimentos.
Poderei sempre contar com as cores que pinto na palidez da folha, nunca estarei sozinha, em situação alguma se está completamente sozinho.
Quando nada é claro, quando estou perdida, sou eu quem decide, mas eu não estou só.
A vida muitas vezes é só tristeza. Aqui, por entre os espaços a preencher sinto-me protegida. É necessário ficar sozinho no nosso mundo ocasionalmente e evitar o confronto, onde não há problemas, nada para esconder, nada a perder, pessoas e deceções. É melhor ficar no meu universo mágico e não voltar para o negro e selvagem mundo. O que há no mundo que tu não me poderias dar, papel em branco?
Eu sei que tudo ficará bem quando contar tudo o que sei.
Neste paraíso, posso ser quem quiser ser, por isso sou eu mesma enquanto posso ser eu mesma.
O mundo é um pesadelo, o meu refúgio é um sonho... e eu quero algo no meio. Porque quero a única coisa que não posso ter?

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